domingo, 13 de dezembro de 2015

Escrevo para viver 


Escrever é desaguar o desespero em folhas brancas
É esquecer das dores do mundo e colocar no papel as nossas
Escrever nos torna um pouco egoístas, pois queremos que todos
entendam a poesia embrulhada, amassada, distorcida
Que entendam nossas frustrações, nossos sonhos, desejos e esperanças


Escrever é para passar o tempo ou ao menos tentar não pensar nele
É sentir, mesmo que distante, um pouco da pessoa amada
É colocar para fora sensações que vem da alma, imaginação incansável,
insistente, que não para de latejar


Escrevo porque amo, e para não enlouquecer
Escrevo porque me engano, porque não posso me esconder
Escrevo de saudade e de angústia não morrer
Escrevo pois essa é a cura de todo meu entorpecer...


Ana Paula Tomé


À pergunta habitual: "Por que é que escreve?", a resposta do poeta será sempre
a mais curta: "Para viver melhor."

(Saint-Jonh Perse)


sábado, 5 de dezembro de 2015

Um pouco de embriaguez

Quem dera eu poder te beijar sem pressa, e de todas as conversas te fazer sorrir.
Esquecer as dores do tempo perdido e o desejo do seu ombro amigo para me consolar.
No aconchego dos teus braços, em noites duvidosas, meu silêncio te invade revertido em amor.
Dos olhos que brotaram paixão, tudo era ilusão do que se podia ter.
E pelas ruas de qualquer lugar, muitas vezes essa sensação de embriaguez, perdidos num tempo esquecido, num tempo vencido pelo cansaço.
Ora, quantas noites de conversas e agora quanto silêncio. Quem de nós desistiu?
Quem dera ter o dom dos caminhos certos, para não pisar em falso, pois parece-me que caí numa vala gigantesca e sem fim.
E o segredo para não desistir, é levar nos olhos o que se viu, e no peito o que sentiu.
Pois nada é garantia, nada é eterna alegria, nada às vezes é tudo quando é só isso que se pode ter...

Ana Paula Tomé



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Queridos leitores, hoje quero falar de um escritor no qual eu tenho enorme admiração, o grande poeta Rubem Alves (15 de setembro de 1933 - 19 de julho de 2014).
Pouco antes de falecer em Campinas SP, eu estava me programando para ir até a cidade somente para conhecê-lo, o que infelizmente não foi possível.
Rubens adoeceu e veio a falecer por falência múltipla de órgãos, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram espalhadas sob um Ipê amarelo, Ipês amarelos eram sua paixão, assim como minha também.
Sempre me identifiquei com sua escrita, com certeza absoluta ele está na minha lista de escritores preferidos. Sua sensibilidade é perturbadora, como se quase toda sua obra fosse escrita para mim, e não estou exagerando.
No meu livro "Sob as asas de uma Borboleta" coloquei uma citação de Rubens que tinha tudo a ver com o meu momento.

“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.”
Rubem Alves

Era exatamente assim que eu estava me sentindo, saindo de uma grande metamorfose, renascendo, voando, livre e feliz.
Então resolvi registrar e levar para a vida todo o meu processo de transformação, minhas dores, alegrias, segredos e fantasias.
Hoje mesmo depois de ter partido, ainda me deparo e me surpreendo com tudo que ele tem para me ensinar.
Estou falando deste texto maravilhoso que vou deixar aqui para vocês, difícil alguém não se identificar.
Seja curioso e pesquise mais sobre o Autor, sua vida, suas obras, sua carreira, vocês vão descobrir um verdadeiro tesouro.
Um beijo e obrigada por ler.

Solidão Amiga, de Rubens Alves

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa...
Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!
Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.
Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um
deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.
Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Eu Serei

Eu serei uma palavra lançada ao vento
Uma lágrima e um pensamento
Esquecido em algum lugar

Serei o canto triste da sereia
Suas pegadas na areia
E o silêncio ao entardecer

Eu serei as nuvens passageiras
O beija-flor que ama a roseira
A borboleta que não se cansa de lhe sondar

Eu serei seus sonhos mais insanos
Fazendo parte dos seus sonhos
Mais difíceis de realizar

Eu serei um poema abandonado
Em uma gaveta qualquer
Uma saudade distante nos passos de um viajante 

Serei o sol que invade seu quarto
E a claridade que sem maldade
Chega para te beijar

Mas de tudo que fui ou que sou
Entendi que não sou nada
Se não puder sentir minha ausente presença

Nos seus dias
Nas suas alegrias
E no seu modo de amar

Sinta-me e eu serei...


Ana Paula Tomé

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Mundo Novo

Eu sei que os tempos mudaram
Que os dias estão voando
Que a mentira tomou lugar da verdade
Que o ser humano não é mais humano
Que o dinheiro não sobra e sempre queremos mais
Que trabalhamos o dobro que em outros tempos
Que a mulher não é mais Amélia e tornou-se escrava de sua liberdade
Que os homens ganharam asas e tornaram-se grandes egoístas
Que as crianças não são mais crianças, e perde-se a inocência cedo demais
Também sei que o coração esfriou
Que nossa comida está contaminada
Que nunca existiu justiça de verdade para fazer valer as leis
Que a natureza está sucumbindo e a mãe Terra chora
Que os bandidos estão engravatados e temos falsos profetas nas igrejas e no senado
E como cegos perdidos num tiroteio corremos sem direção
Corremos deste mundo louco, corremos de nós mesmos
E sabemos tão pouco onde está a solução
Não tente fugir, não existe saída, ela está escondida
Acorda, olha para dentro de si antes que seja tarde demais


Ana Paula Tomé

domingo, 15 de novembro de 2015


Vida

Num dia você sorri, no outro você chora

Num dia você tem tudo, no outro você tem nada

Assim a vida segue, cheia de incertezas e dúvidas constantes

Paira no ar um silêncio doloroso

Você quer respostas mas não tem

Então se abate em meio a uma solidão acompanhada

Daquela que vez ou outra até nos faz pensar que vamos começar a ser feliz

Mas infelizmente era mentira, só mais uma brincadeira do tempo

Cansado, seu corpo vaga por um caminho longo e árduo, como o meu

Claro que eu prefiro caminhar sobre as flores, e sentir a luz do sol em meu rosto

Ver a alegria das borboletas e o sorriso das crianças

Eu nada tenho a ver com as trevas, mas às vezes elas me perseguem

Às vezes elas se fazem presentes de uma forma discreta e distorcida

Como hoje, como agora...

E assombrosamente eu percebo que o dia amanheceu nublado assim como o meu coração...


Ana Paula Tomé

Somente amar

Que eu tenha um olhar mais ameno sobre tudo, para não julgar erradamente.
E que essa minha acidez não me empurre para longe do que poderia me fazer feliz.
Porque eu sinto uma imensa necessidade de voar cada vez mais alto, e cada vez mais longe do que eu já fui um dia!
Matei a velha criatura e gosto desta pessoa na qual estou me tornando, tão livre, tão segura, e tão forte.
Como a brisa ou como a morte eu andarei de tempo em tempo, chorando ou sorrindo, desde que a vida me permita sentir eu só quero amar...
Ainda que eu sofra, ainda que eu pereça, mas que eu esteja nos seus braços e completamente feliz.

Ana Paula Tomé

sábado, 7 de novembro de 2015

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Apresento-lhes meu livro "Sob as asas de uma Borboleta"
Contos, poemas e reflexões.
Publicado pela Editora Laços SP.
Lançamento Martins Fontes Paulista em Setembro de 2013.